Lula rebate autor da PL do aborto: “Queria ver se fosse a filha dele”

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em entrevista à rádio CNB, criticou duramente o projeto de lei (PL) do aborto proposto pelo deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) e rebateu dele que o citava. O projeto equipara a interrupção da gravidez após 22 semanas de gestação ao crime de homicídio simples, com pena prevista de 6 a 20 anos para médicos e pacientes. Menores de idade estariam sujeitos ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), podendo ficar apreendidos por até três anos.

Foto: Ricardo Stuckert/PR

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva

Lula abordou a fala de Sóstenes, que afirmou ter proposto a lei para testar o presidente. "Por que uma menina é obrigada a ter um filho de um monstro que a estuprou? O cidadão [Sóstenes] diz que fez um projeto para testar o Lula. Eu quero ver se uma filha dele fosse estuprada, como é que ele ia se comportar", declarou o presidente.

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Lula reiterou sua posição pessoal contra o aborto, mas destacou a necessidade de tratar a questão como um tema de saúde pública. "Eu, Lula, sou contra o aborto. Agora, enquanto chefe de Estado, o aborto tem que ser tratado como tema de saúde pública. Nós estamos retrocedendo nessa discussão e estamos voltando atrás. O que é triste é que um deputado apresenta um PL em que o estuprador pega uma pena menor do que a estuprada. Isso nem deveria ter entrado em pauta."

Ainda durante as falas, o presidente avaliou que a questão do aborto não é "debate cru", mas uma questão madura que envolve sociedade. "Elas têm o direito de ter comportamento diferente e não querer o filho. Por que uma menina é obrigada a ter um filho do cara que estuprou ela? Que monstro vai sair do ventre dela?"

Para Lula, o projeto é um retrocesso e não devia estar sendo debatido, e sim outros temas, como a educação sexual nas escolas. "O abordo não deveria nem ter entrado em pauta. O tema do Brasil não é esse. Estamos retrocedendo na discussão".

O projeto de Sóstenes gerou uma onda de críticas da sociedade civil, médicos e entidades de defesa das mulheres. Entre os argumentos contra o PL está a dificuldade que adolescentes estupradas enfrentam para descobrir a gravidez precocemente, muitas vezes devido ao abuso ocorrer no seio familiar, dificultando o diagnóstico e a denúncia.

Fonte: Portal AZ