Dia de combate ao Feminicídio no Piauí: Coordenadoria aponta crescimento de denúncias online

Crimes de violência contra a mulher seguem acontecendo no estado

Por Jade Araújo,

No Piauí, o dia 27 de maio é marcado como o Dia de Combate ao Feminicídio. De acordo com a Coordenadoria Estadual de Políticas Públicas para as Mulheres, de janeiro a abril deste ano, foi constatado uma redução no aumento de denúncias presenciais e aumento nos meios virtuais. Porém, a data não é feita só de números. Por trás da violência existe o machismo que também é um ponto de discussão em datas como essas.  

27 de maio é marcado como o Dia Estadual de Combate ao Femincídio - Foto: reprodução / Internet

A data faz alusão ao mesmo dia no ano de 2015 em que quatro adolescentes foram estupradas e jogadas de um barranco no município de Castelo do Piauí, a 189 km de Teresina. Esses crimes de violência contra a mulher seguem acontecendo no estado assim como os casos de violência doméstica. Com a pandemia do novo coronavírus, onde a principal forma de prevenção da doença é o isolamento social, as mulheres passaram a conviver com seus agressores. 

Foto: divulgação

Com isso, as formas alternativas surgem como uma força feminina para que esses casos permaneçam sendo denunciados. De acordo com a coordenadoria, em comparativo aos meses de janeiro a abril de 2019, houve uma redução nas denúncias presenciais, como explicou a coordenadora Zenaide Lustosa, em entrevista ao Portal AZ. 

"Os dados de janeiro a maio de 2019, comparado aos dados desse mesmo período de 2020, por exemplo, as delegacias especializadas da mulher não teve um aumento, pelo contrário, reduziu o número de denúncias em torno de 15%. Talvez isso se dê pela dificuldade que a vitima tem por estar convivendo com o agressor, de estar dentro de casa por causa do isolamento social ou as pessoas pensam que não estão funcionando as delegacias", disse.

Aplicativo Salve Maria pode ser baixado na Apple Story ou Play Story (Foto: divulgação)

Com a diminuição do número de denúncias presenciais, foi notado pela coordenadoria, um crescimento no número de denúncias por meio do aplicativo Salve Maria. Com 35% a mais de denúncias em relação a janeiro e abril do ano passado, em 2020 o isolamento social, quando mulheres convivem com seus agressores, a plataforma virtual tem sido a mais escolhida para quebrar o silêncio. Porém, a coordenadora alertou que esses números de violência ainda são subnotificados.

"É um canal silencioso que você não precisa estar ligando. E 190 também teve um aumento da procura de pessoas ligando que geralmente são casos de urgência. Porém esses dados ainda são subnotificados, pois claro que a violência é bem maior e por existirem também outros canais que as mulheres procuram", explicou. 

Em relação ao feminicídio, que é definido como crime homicídio em sentido mais amplo, sociológico e histórico, a coordenadora afirmou que os números, em relação ao período de janeiro a abril de 2019, não cresceu em 2020. 

Machismo

Desde o começo do mundo, o machismo é algo comumente vivenciado na sociedade. Visto muitas vezes como piada, as pessoas que sofrem desse mal, expresso por opiniões e atitudes, costumam se opor à igualdade de direitos entre os gêneros, favorecendo o gênero masculino em detrimento ao feminino.

Foto: Pixabay

No caso dos atos de violência contra a mulher ou a violência que leva ao assassinato, tipificado na lei como feminicídio, a coordenadora contou que esses atos, pela sua construção social e cultural, estão diretamente ligados ao machismo. Ela relatou ainda que nos casos de feminicídio o homem busca desqualificar a mulher durante a violência infligida. 

"O feminicídio é político e tem a ver com as relações de poder provocados inclusive pelo machismo. Se você conversar com qualquer delegada que tratam de inquéritos de feminicídio, eles percebem que quando a morte da mulher é caracterizada como feminicidio porque tem umas características cruéis com intuito de desqualificar a mulher na hora da morte. O caso da Aretha, que era cabelereira, o que ele fez, o coro cabeludo dela foi o mais atingido. Então eles pegam os locais que as mulheres mais prezam ou na sua vida profissional ou suas características físicas. São características bem diferenciadas de um homicídio comum", contou. 

Eleonora Menicucci, socióloga e professora titular de saúde coletiva da Universidade Federal de São Paulo, e ex-ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres entre 2012 e 2015, diz: "Trata-se de um crime de ódio. O conceito surgiu na década de 1970 com o fim de reconhecer e dar visibilidade à discriminação, opressão, desigualdade e violência sistemática contra as mulheres, que, em sua forma mais aguda, culmina na morte".

Denuncie!

Prefeitura fornece a atendimento a mulheres - Foto: divulgação

Durante a pandemia, o aplicativo Salve Maria, que pode ser baixado na Apple Story ou Play Story do seu celular é um canal silencioso de ajuda a mulheres. Outros canais são os números de telefone, como o 180 ou 190 além do Centro de Referencia Esperança Garcia, por meio do número 86 99416-9451

"O que a gente orienta é que as mulheres que estão sofrendo esses tipos de violência que elas denunciem nesses canais de violência. Que procure ajuda porque o silêncio pode matar. Ele te mata por dentro e pode te matar por fora depois"

Pós pandemia

Estudos feitos em países que passaram pelo período de isolamento mostram um crescimento no número de divórcios. Segundo o The Global Times, após a quarentena, o número de pedidos de divórcio subiu significativamente na China. Em muitas cidades, inclusive, sequer haviam horários disponíveis nos cartórios para tratar do assunto.

A coordenadora aponta que isso possa acontecer no Brasil e que pode levar a um aumento no número de casos de femincídio e violência doméstica. 

"Isso pós pandemia pode aumentar. Não só a violência, mas talvez o próprio feminicídio. As pesquisas em outros países que já passaram por essa parte do isolamento mostram que após o isolamento houveram mais divórcios. Talvez aconteça o mesmo aqui no Brasil as mulheres queiram se separar mais e sejam mais alvos de violência. O feminicídio geralmente é realizado por uma pessoa próxima", finalizou.

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