EUA registram recorde de mortes por overdose durante a pandemia

Também é o maior salto anual. Foram 27% de mortes a mais que os 12 meses anteriores

Por Poder 360,

Os Estados Unidos registraram pelo menos 87.203 mortes por overdose de outubro de 2019 a setembro de 2020. O número é  recorde absoluto de mortes por opioides em 12 meses desde o início da série histórica, nos anos 1990, no início da “epidemia dos opioides” nos EUA.

EUA registram recorde de mortes por overdose durante a pandemia (Foto:Michael Longmire/Unsplash)

Também é o maior salto anual. Foram 27% de mortes a mais que os 12 meses anteriores. Os dados preliminares são do CDC (em português, Centro de Controle e Prevenção de Doenças). Leia a íntegra.

Como os dados ainda serão revisados, possivelmente há subnotificação. O estudo do CDC indica que mais de 3.000 mortes ainda estão sendo investigadas e podem ser incluídas em uma atualização futura. Contando estes números, o relatório mostra 90.237 mortes projetadas, o que elevaria o crescimento anual para 29%.

No recorde de um ano a outro, pouco mais da metade desse período já engloba a pandemia da covid-19. Os números mostram uma relação direta entre o isolamento social e o aumento das overdoses. Abril e maio foram os meses com o maior contingente de mortes, logo no início do enrijecimento das medidas de distanciamento social.

A publicação “Comentário sobre a pandemia de coronavírus: Antecipando uma 4ª onda na epidemia de opioides” da Associação Americana de Psicologia concluiu que como resultado da pandemia, o acesso aos serviços de saúde mental e comportamental foi interrompido ou mesmo suspenso.

“Isso é especificamente problemático entre os serviços para uso e dependência de substâncias, onde muitos programas tradicionalmente disponíveis nos Estado, como o de desintoxicação e internação, estão diminuindo  para acomodar os esforços de alívio da pandemia”, diz o texto.

O isolamento social imposto pela pandemia exacerba sentimentos de ansiedade, medo e perda de controle, que podem aumentar o uso das substâncias. Além disso, o uso de opioides por indivíduos enquanto estão sozinhos também pode ser um fator que justifique o aumento do número de mortes por overdose.

De acordo com os dados do CDC, o Estado que mais convive com o avanço da epidemia dos opioides é a Louisiana (+54% de mortes). É o 4º com a maior população afro-americana do país –mais de 1/3 é negra. O CDC também liga as mortes pelas drogas com a questão racial. Na virada do século os opioides atingiam mais a população rural e predominantemente branca. Hoje, é a comunidade afro-americana que sofre mais.

No começo deste mês, o ONDC (Escritório de Política Nacional de Controle de Drogas) divulgou um documento com o plano para políticas de controle de drogas no 1º ano de governo, apresentando as principais prioridades do governo. Na declaração, o ONDC afirma que há uma “necessidade clara e perceptível” de tomar medidas para fazer avançar as questões de equidade racial no que diz respeito à política de drogas, e afirma que pessoas marginalizadas e afetadas pela pobreza são as mais impactadas.

“Essas desigualdades se manifestam no acesso aos cuidados, tratamento diferenciado e piores resultados de saúde. Para muitas pessoas com distúrbios por uso de substâncias, o acesso a cuidados nos Estados Unidos é inadequado, mas para negros, indígenas e pessoas de cor, a situação é pior”, afirma o documento.

De acordo com um estudo citado pelo governo norte-americano, os negros geralmente entram em tratamento contra a dependência de 4 a 5 anos mais tarde do que brancos. Além disso, nas comunidades latinas, aqueles que precisam tratamento para transtorno por uso de substâncias foram menos propensos a ter acesso a cuidados do que indivíduos não latinos.

De acordo com o governo norte-americano, as prioridades da administração democrata nas políticas de controle de drogas são:

  • expandir o acesso ao tratamento baseado em evidências;
  • avançar nas questões de igualdade racial em nossa abordagem às políticas de drogas;
  • melhorar os esforços de redução de danos com base em evidências;
  • poiar esforços de prevenção baseados em evidências para reduzir o uso de substâncias por jovens;
  • reduzir o fornecimento de substâncias ilícitas;
  • promover locais de trabalho para recuperação e expandir a força de trabalho de dependência;
  • expandir o acesso a serviços de suporte de recuperação.

“Enfrentar a epidemia de overdose e dependência é uma questão urgente que a nação enfrenta. A abordagem multifacetada e baseada em evidências da Administração BidenHarris irá enfrentar este desafio ao expandir o acesso a serviços de prevenção, redução de danos, tratamento e recuperação e reduzir o fornecimento de substâncias ilícitas. Este trabalho também incluirá esforços há muito esperados para lidar com questões de equidade racial na política de drogas e cuidados de saúde”, diz o documento.

O Plano de Resgate Americano de Joe Biden inclui US $ 1,5 bilhão para a prevenção e tratamento de transtornos por uso de substâncias, e US$ 30 milhões em financiamento para serviços locais que beneficiam pessoas com dependência.

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