Disfuncionalidade administrativa

Disfuncionalidade administrativa

Se atravessar a rua para escorregar em casca de banana fosse um esporte, Bolsonaro e sua equipe seriam um time vencedor. O governo atual se supera para criar problemas, sendo o último, o mais improvável de todos: a suspensão da vacinação de adolescentes com 12 anos ou mais com o imunizante da Pfizer, único aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária para esse estrato demográfico. Em uma questão já pacificada, com base em opiniões leigas e contrariando uma orientação da própria Anvisa e da Organização Mundial da Saúde, o ministro Marcelo Queiroga, da Saúde, para agradar a Bolsonaro e uma bolha de gente insana, determinou a suspensão da aplicação do imunizante, criando um problema onde deveria haver solução.  Diante de uma medida tão insensata quanto atabalhoada, que leva o carimbo do presidente, se pode compreender melhor a rapidez com que o apoio e a popularidade despencam, junto com uma série de indicadores de avaliação do governo, conforme aferiu pesquisa do Instituto Datafolha, cuja credibilidade logo foi posta em xeque pelas redes bolsonaristas, sempre ávidas por acreditarem em suas próprias verdades – em grande quantidade de informação que não se sustenta no mundo real. O andar da carruagem eleitoral indica que a manutenção de ações como a suspensão de vacinação para adolescentes, com base em convicções vazias, pode piorar o que já é muito ruim para o presidente, cujo maior inimigo hoje não é o PT, a esquerda, o Lula, o Dória ou qualquer político que a ele se oponha. O maior adversário de Bolsonaro é ele mesmo, com sua crescente incapacidade de avaliar a extensão dos danos a disfuncionalidade de seu governo pode causar-lhe. Como desgraça pouca é tiquim, como se diz pelas bandas do interior do Piauí, a incapacidade funcional do presidente e de seu governo têm contra si outro inimigo terrível, o tempo, que vai corroendo dia a dia o que resta de prazo para se consertar os malfeitos, ou, no caso do atual governo, onde há mais não-feitos que malfeitos, para se fazer o mínimo que lhe possa dar um portfólio de realizações para exibir ao eleitor em 2022.

Hélio Isaías, depois do seu momento oposição ao governo, já recebeu sinal verde para voltar (Foto: Alepi)

Fique, a casa é sua!

Wellington Dias (PT) que, há muito já demonstrou que raiva sentida é coisa passageira, está avisando que seu governo segue de porta aberta para a volta de Hélio Isaías (PP), que deixou a Secretaria de Transportes para reassumir sua cadeira de deputado estadual e votar no colega Zé Santana (MDB) para o Tribunal de Contas do Estado.

Rompimento passageiro 

Isaías saiu mordendo a língua para não dizer impropérios com o governador, logo, avisando aos mais próximos, que estava rompido.
Mas o ‘convencimento’ a base de bons ‘incentivos’ falou mas alto ele terminou desistindo do candidato e votando na candidata Flora Izabel.
Isto é, ele jura que votou. 

O traíra

Embora alguns matemáticos façam as contas e admitam que o voto de Isaias pode estar entre aqueles sete que votaram em Wilson Brandão. 
Senão veja: votos da oposição Wilson teve de Lucy Soares, Teresa Brito, Marden Menezes, Gustavo Neiva e o dele próprio.
Sete outros, que são da base governistam votaram em Wilson. Diabinho estaria entre eles.

Convencidos

No balcão em que se transformou a área de escritórios do Mirante do Lago, o residencial de classe média alta onde vivem o governador e a nova conselheira do TCE, Flora Izabel, Zé Santana deixou de lado sua candidatura à vaga. Isaías foi convencido a votar em Flora porque não havia mais um candidato para ele votar.

Vingança

Mas pense bem: Isaías ainda hoje não digeriu por completo a decisão da nova conselheira do TCE de abandonar a candidatura dele à presidência da Assembleia, em 2019.
Flora preferiu ficar com Themístocles, por gratidão, e Isaías voltou para a Alepi para dar um voto contra a colega.
O troco que seria dado agora não mais será possível.

E volta?

Wilson Brandão (PP), garfado pela decidida ação de Wellington Dias de comprar o necessário para garantir a eleição de Flora, se ausentou para um refúgio ignorado e não sabido.
Pelo que falou das más ações do governador, tudo indica que não mais voltará à Secretaria de Mineração e Energia.

Pensando bem...

Não parece ser grande perda para Wilson Brandão deixar uma pasta cujo orçamento em 2021 foi de R$ 5,8 milhões.
O que, convenhamos, isso não é nada, não é nada, não é nada mesmo. 

Derrotado?

Há quem analise a eleição do TCE, vencida pela caríssima Flora Izabel, como uma derrota para Wilson Brandão, em menor monta, e para Ciro Nogueira, em maior escala. Falso. Se há alguém que perdeu nessa eleição foi o povo do Piauí.

Vencedor?

Na análise midiática obsequiosa, Wellington Dias só fez o que todo governador faz (interferir numa eleição que não deveria ser da conta dele) e saiu vencedor no cabo-de-guerra do TCE. 
Falsíssimo.

Escrúpulos às favas

Na verdade Wellington Dias venceu expondo um processo eleitoral viciado e, mesmo tendo mandado os escrúpulo às favas, ele ganhou a vaga por estreita margem: 17 em 30 votos possíveis.

Arte de trair 

Mas Wellington Dias sabe encarar as traições. Ainda que Flora tenha saído vitoriosa, Wellington teve trabalho para amealhar os votos necessários exatamente de deputados de sua base aliada que nem precisariam ser comprados.
Porque cada um tem seu território de fazer dinheiro no governo.
Não é não, João Madison?

Tamanho da oposição

O que a eleição para a chancela do conselheiro do TCE mostrou é que a oposição ao governador é muito maior do que ele imagina e sua base aliada bem menor do que se calcula.
Deve ser por isso que Dias usa sua melhor roupa de bom-moço para manter ao seu lado até quem anda muito zangado com ele, como o deputado Wilson Brandão.

Palavra mágica

Wellington tem uma técnica infalível: a insinceridade. E depois, passada a raiva, é só ele se aproximar do desafeto de ocasião, bater-lhe no peito e exclamar: hombre!
Com essa palavra mágica tudo volta como antes. Pelo menos na aparência.

Meu paipai!

Flavio Nogueira Junior, que ensaiou uma candidatura a conselheiro do TCE, saiu do páreo depois que o pai dele, o deputado federal Flávio Nogueira, conversou com Wellington Dias.
Flavinho, então, atuou na linha Pazuello, segundo a qual é simples: um manda, outro obedece.

Mimos 

Mas o deputado estadual não saiu de todo sem aquilo que mais faz a alegria de um político: o bolso de certa forma forrado, ainda que de promessas de ganhar muitas obras.

Calçamento

Depois de brincar de eleição no TCE, Flavio Junior pode voltar à sua faina de sempre: fazer calçamento numa Secretaria de Turismo.
É trabalho pedregoso, esse dele.

Surreal

A Superintendência de Ações Administrativas Descentralizadas Centro notificou a construtora Padrão, responsável pela obra de infraestrutura do Parque Floresta Fóssil, nas margens do rio Poti, por descumprimento de normas sobre os resíduos gerados.
Se uma construtora que está trabalhando numa área de proteção ambiental desrespeita o meio ambiente, calcule aí as que fazem serviços em áreas não protegidas.

Inthegra

Está em curso na Secretaria Municipal de Administração uma concorrência pública para os serviços de gestão integral e continuada dos Terminais de Integração e Estações de Passageiros, incluindo a manutenção e conservação dos equipamentos públicos, fornecimento de materiais e mão de obra, precedida da concessão de uso dos espaços e equipamentos públicos para exploração de publicidade.
O valor previsto é de R$ 7.543.617,52.

“Nova” avenida

Vai se chamar avenida Professor Arimatéia Santos, via que começa na avenida Presidente Kennedy com término na Avenida Raul Lopes, com uma extensão de 4.762 metros, passando pelos bairros Ininga, Planalto e Zoobotânico.
Uma lei municipal foi sancionada na semana passada dando nome à via, que, segundo o autor do projeto, vereador Renato Berger, era uma “avenida sem nome”.

Como assim?

Ocorre que a citada avenida tem nome sim: Ulisses Marques, conforme qualquer criatura com o mínimo de esforço poderia perceber, inclusive com mapa em buscadores como o Google.
É simplesmente espantoso que 29 vereadores votem uma lei para colocar nome numa avenida que já tem nome e, mais ainda, que um prefeito com um monte de assessores não se dê conta disso.

Lei analógica

Num mundo em que uma pessoa pode acessar informações com rapidez e praticidade através de um QR-Code, a Câmara Municipal de Teresina acaba de aprovar uma lei obrigando farmácias e drogarias a afixar cartazes ou placas informativas com nome de medicamentos gratuitos ou subsidiados por programas oficiais.
O autor da lei é o vereador Evandro Hidd, do PDT.

Ping-Pong
Tucano antigo

Januário Feitosa, deputado federal pela Arena, entrou no Comitê de Imprensa da Assembleia Legislativa do Ceará nos anos 80. Imediatamente é inquirido por um jornalista, Lincoln Vasconcelos:

Lincoln: “Deputado, quem foi o melhor governador do Ceará?”
Januário: “Cada um foi o melhor no seu tempo. César Carls foi no tempo dele, Adauto Bezerra foi no tempo dele, Virgílio Távora foi no tempo dele...”

Originalmente publicado em 29 de agosto de 2016.

Expressas 

A prefeitura de Teresina está preparando a vacinação antirrábica para cães e gatos. Com certo atraso, mas antes tarde do que nunca.

A farmácia de medicamentos excepcionais do governo do Piauí é um exemplo de como é mal gerida a assistência farmacêutica no estado.

Será boato ou coisa do gênero a história de que em Parnaíba postos de combustíveis não querem abastecer os carros da prefeitura local?

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