Eu queria ser você

Eu queria ser você

No fim dos anos 90 eu já estava com o Arimatéia há 04 anos, quando ele começou a denunciar o crime organizado no Piauí pela 2ª vez, a 1ª foi nos anos 80.  Eu queria ser qualquer pessoa menos eu - como se as pessoas não tivessem seus problemas - era um jogo mental que eu fazia. Na época eu me sentia só, porque eu não acreditava que tivesse outra pessoa passando pelos mesmos problemas que eu e o Ari, ele principalmente por denunciar o que estava errado. Qual outro jornalista no Piauí já havia passado por isso? Ou que estava passando? Quanto mais deixam o Arimatéia acuado, mais ele tem coragem de seguir em frente e denunciar. É da natureza dele ser destemido. Levando em conta que ele sempre esteve nestas batalhas somente com o apoio da família. 

Arimatéia Azevedo e Joana Darc (Foto: arquivo pessoal)

Mas voltando aos meus sentimentos na época, eu queria ser a moça do ponto de ônibus, a que estava de mototáxi, a caixa do supermercado, a que passava de carro… Era automático. Mas tinha algumas mulheres que eu não queria ser jamais, nem por um segundo; a esposa, a filha, a irmã, a mãe de quaisquer dos envolvidos no crime organizado. Eu preferia estar do lado certo, do lado do bem. 

Tinha medo? Sim, a gente não tinha proteção de nada, a nossa proteção era o meu terço, minhas orações e joelho no chão. Mas na época eu me pegava em dois fios de esperança; o Superintendente da Polícia Federal na época, Robert Rios e no Promotor Público, Afonso Gil Castelo Branco. Esperança dele nos ajudar? Não. Eles andavam com dois seguranças. Certa vez o Arimatéia perguntou pelo segurança dele ao Robert Rios e ele respondeu: “tem não Neguim, você é a isca”.

Então a minha esperança era que eles agissem rápido e desvendassem todos os crimes, mostrar para a população o que eu e o Ari sabíamos e que os piauienses não tinham a menor ideia dos horrores que estavam sendo cometidos. 

Hoje, 2021, continuo com o jogo mental, querendo ser qualquer outra mulher, a moça do ponto de ônibus, a que está de mototáxi, a caixa do supermercado, a que passa de carro, menos a esposa, filha, irmã, mãe dos algozes do Arimatéia, porque sei que estou do lado certo, é a luta do bem contra o mal. 

Se tenho medo? É um medo diferente, eu acho mais preocupante, porque desta vez estamos totalmente sozinhos. Não há fio de esperança para nos apegar. Não há justiça e polícia para nos proteger. Somos nós; ele, eu, as filhas e genros e um grupo de orações formado por parentes e amigas contra um sistema formado por instituições carcomidas e que estão sendo usadas como instrumento de vingança para punir uma pessoa. É artilharia pesada. E os homens de bem estão calados ou mortos. Uma parte deles, assim como Pilatos, lavaram suas mãos. Mas não tem água que limpe a culpa e quiçá o remorso, que um dia eles terão.

E no mais, como disse o filósofo Luiz Felipe Pondé recentemente numa entrevista: “No fundo, a maioria não está nem aí para a corrupção". Verdade, só se importam quando o corrupto é o adversário. Quando são denunciados pelos desmandos o bandido é o mensageiro, no caso o jornalista Arimatéia Azevedo.

No ano passado uns meses após o fatídico 12/06; quando o projeto de humilhar e desmoralizar o Ari começou; fui me confessar com um padre e perguntei a ele: “por que eu não deixei o Ari há anos, lá nos anos 90, depois de passar por tanta coisa ruim? No que ele respondeu: “porque vocês dois juntos têm o compromisso com a justiça e a verdade”. 

Custa muito caro pra nós, aliás caríssimo. Tira nossa paz, sono, dinheiro e tempo. E a injustiça me corrói por dentro, já tive ódio - sentimento raríssimo d’eu sentir - indignação, decepção.  Mas de uma coisa eu tenho certeza, nada disso será em vão. 

Jesus, eu confio em Vós!

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