O papa Francisco pediu o fim dos conflitos armados em uma carta publicada nesta terça-feira (18). O pontífice argentino, que está hospitalizado em Roma há mais de quatro semanas tratando uma pneumonia, escreveu sua mensagem ao diretor do jornal italiano Il Corriere della Sera. Em sua carta, datada de 14 de março, Francisco enfatiza a importância de "desarmar as palavras" como um passo fundamental para desarmar mentes e a Terra, destacando a necessidade de reflexão e um senso de complexidade nas relações humanas.
Na carta, o papa argumenta que a guerra parece "ainda mais absurda" durante períodos de doença, quando a fragilidade humana se torna evidente. Ele menciona que essa fragilidade nos torna mais conscientes do que realmente importa: "o que faz viver e o que faz morrer". Francisco, que tem 88 anos, já fez várias declarações em prol da paz mundial, tendo mencionado a palavra "paz" em seus discursos oficiais mais de 310 vezes desde 2020, refletindo sua preocupação contínua com os conflitos globais.
A divulgação de sua carta vem em um momento crítico, após Israel retomar ataques à Faixa de Gaza, interrompendo um cessar-fogo. De acordo com o Ministério da Saúde palestino, os novos ataques resultaram em 330 mortos, incluindo crianças e mulheres. O ministro da Defesa israelense, Israel Katz, declarou que a ofensiva continuará "até que todos os reféns tenham retornado", aumentando a urgência do apelo do papa por paz.
Apesar da melhora em seu estado de saúde, o papa permanecerá hospitalizado por tempo indeterminado. Em sua mensagem, ele também convoca a diplomacia e as organizações internacionais a se reenergizarem, afirmando que as religiões devem usar a espiritualidade dos povos para reacender o desejo de fraternidade e justiça. Francisco conclui sua carta solicitando um esforço coletivo para alcançar a paz, ressaltando a importância das palavras e a necessidade de um compromisso renovado com a diplomacia e a justiça social.
Leia carta do papa Francisco da íntegra:
Prezado diretor,
gostaria de agradecer pelas palavras de proximidade com as quais desejou estar presente neste momento de doença em que, como já disse, a guerra parece ainda mais absurda. A fragilidade humana, de fato, tem o poder de nos tornar mais lúcidos em relação ao que dura e ao que passa, ao que nos faz viver e ao que mata. Talvez seja por isso que, com tanta frequência, tendemos a negar os limites e a evitar pessoas frágeis e feridas: elas têm o poder de questionar a direção que escolhemos, como indivíduos e como comunidade.
Gostaria de encorajar o senhor e todos aqueles que dedicam trabalho e inteligência para informar, através de instrumentos de comunicação que agora unem nosso mundo em tempo real: sentir toda a importância das palavras. Elas nunca são apenas palavras: são fatos que constroem os ambientes humanos. Elas podem conectar ou dividir, servir a verdade ou se servir dela. Precisamos desarmar as palavras para desarmar as mentes e desarmar a Terra. Há uma grande necessidade de reflexão, de calma, de um senso de complexidade.
Enquanto a guerra apenas devasta as comunidades e o meio ambiente, sem oferecer soluções para os conflitos, a diplomacia e as organizações internacionais precisam de nova força vital e credibilidade. As religiões, além disso, podem se valer da espiritualidade dos povos para reacender o desejo da fraternidade e da justiça, a esperança de paz.
Tudo isso exige comprometimento, trabalho, silêncio e palavras. Sintamo-nos unidos nesse esforço, que a Graça celeste não deixará de inspirar e acompanhar.
Francisco