Empresa afirma ter recriado lobo primitivo — mas há controvérsias

Segundo a empresa de biotecnologia, animais estão de volta a vida ao estilo Jurassic Park

A empresa americana Colossal Biosciences anunciou um feito surpreendente: o nascimento de três filhotes de lobos com características do extinto lobo terrível (Aenocyon dirus), animal pré-histórico que habitava as Américas e desapareceu há cerca de 10 mil anos. A revelação reacendeu o debate sobre os limites éticos, científicos e práticos da chamada “desextinção”.

Foto: Colossal Biosciences
Lobo “terrível” de 10 mil anos, agora vivo?

A Colossal, com sede em Dallas (Texas), afirma ter recriado o lobo com base em material genético recuperado de fósseis com até 72 mil anos. Os filhotes nasceram em outubro de 2024 e janeiro de 2025 após edição genética do DNA de lobos-cinzentos modernos (Canis lupus), em um processo que incluiu a modificação de 20 pontos genéticos em 14 genes.

Segundo a empresa, os genes alterados afetam traços como cor e espessura dos pelos, formato do crânio e o tamanho do corpo — tudo para aproximar a aparência dos filhotes à do extinto lobo terrível. Os embriões foram implantados em cadelas e os filhotes estão sendo monitorados em um santuário nos EUA.

“Cachorro estilizado” ou ressurreição científica?

Apesar da empolgação da Colossal, muitos cientistas não estão convencidos. A paleoecóloga Jacquelyn Gill, da Universidade do Maine, foi direta: “Isso é um cão estilizado. Um lobo-cinzento geneticamente modificado.”

Segundo ela, os filhotes não trazem nenhuma informação nova sobre o comportamento ecológico do lobo terrível, já que não herdaram cultura nem hábitos da espécie extinta.

Para Gill, mesmo que fosse possível clonar um lobo 100% idêntico ao original, restaria uma questão essencial: “O que faremos com ele?”

A própria Colossal admite que não se trata de uma recriação fiel.

“Não é possível e nem é o objetivo fazer um animal 100% geneticamente idêntico ao lobo terrível”, afirmou Beth Shapiro, diretora científica da empresa e coautora de um estudo de 2021 que identificou o lobo terrível como pertencente a uma linhagem evolutiva mais antiga do que os lobos modernos.

Foto: Colossal Biosciences
Romulus e Remus, com três meses de idade

Potencial para conservação

Apesar das críticas, há um consenso de que a técnica usada pela Colossal tem potencial real para a conservação de espécies vivas. Um exemplo citado é o lobo-vermelho, espécie ameaçada que viveu do Texas à Pensilvânia, mas foi considerada extinta na natureza em 1980. A técnica de edição genética pode ajudar a diversificar o DNA de populações pequenas e vulneráveis, algo essencial para sua sobrevivência a longo prazo.

Ao contrário de métodos tradicionais que usam amostras de pele, a Colossal utiliza amostras de sangue para reprogramar células — um procedimento mais eficiente para o chamado “biobanking” genético.

Reintrodução é improvável

Os lobos criados pela Colossal estão sendo mantidos longe de interações com o ambiente natural, e não há planos imediatos de reprodução ou reintrodução na natureza. A empresa estuda, no entanto, doar alguns desses animais para tribos indígenas interessadas em preservá-los em terras tribais.

Mas, para os cientistas, trazer o lobo terrível de volta ao ambiente natural é algo quase impossível.

“Reduzimos o tamanho da vida selvagem na Terra. É difícil imaginar uma aplicação prática para um predador do Pleistoceno no mundo de hoje”, afirma Gill.

Ainda assim, ela reconhece o valor científico da iniciativa.

“Há ciência relevante sendo feita aqui. Só gostaria que isso não se perdesse no meio do hype”, declarou ela.

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