Reportagem da ambientalista e jornalista Tânia Martins, para o Corre Diário, dá conta de que a planta de geração de hidrogênio verde, projetada para ser instalada em Parnaíba, vai consumir cinco vezes mais água que toda a população da segunda maior cidade do Estado. Segundo a última projeção do IBGE, moram em Parnaíba 169,5 mil pessoas. Haveria ainda risco ambiental grave para o Delta do Parnaíba.
Escreve Tânia Martins que, segundo o professor e pesquisador, Valdinar Bezerra, da Universidade Estadual do Piauí (UESPI), o consumo médio de água por habitante é de 117,30 litros por dia.
A partir destes dados e no consumo previsto pela empresa Solatio para a operação da usina de hidrogênio verde (91.200.000 litros/dia), o uso diário de água pela empresa espanhola seria de 562,41 litros – 4,8 vezes mais que o consumo diário médio da cidade.
Além de elevado consumo de água, a planta de geração de hidrogênio verde deve precisar de cargas de energia elétrica elevada. Citando a Agência Nacional de Energia Elétrica, Tânia Martins informa que o consumo previsto de 3 gigawatts de energia é quase metade da capacidade de geração instalada de energia no Estado, de 6,8 gigawatts.
Segundo a jornalista, “para dar conta da demanda, o governo está viabilizando a ocupação dos municípios da planície litorânea por projetos de energia eólica e solar. Mas isso, segue a ambientalista, resultaria em um “desmatamento monstruoso, de milhares de hectares, em Bom Princípio, até agora, estão confirmados 10 mil hectares dedicados à instalação de painéis solares”.
A reportagem de Tânia Martins alerta para risco alto ao Delta do Rio Parnaíba. Pesquisadores do Grupo de Trabalho liderado pelo professor Valdinar Bezerra dizem que a extensa área fluvial formada pelos rios Parnaíba e Igaraçu estará condenada à contaminação pelo despejo de rejeitos e efluentes oriundos da indústria.
Essa contaminação, segundo o pesquisador João Paulo Centelhas, do mesmo grupo de trabalho ligado à Universidade Estadual, pode decorrer de “eventuais vazamentos da solução de hidróxido de potássio utilizada na eletrólise alcalina, seja da limpeza dos equipamentos, seja de resíduos de amônia e da purga de resfriamento dos reatores”,
Segundo Centelhas, os rejeitos e as impurezas que são fruto da filtragem da água do Parnaíba quando forem jogados ao rio em alta concentração produzirão um efeito brutal à vida aquática.
Em sua análise, o professor sugere que a retirada expressiva de água doce do rio antes de ele se ramificar no Delta e a liberação de efluentes gerados pela filtragem da água e da purga de resfriamento dos reatores pode comprometer o grau de salinidade das águas do Delta e, por consequência, diversos seres vivos aquáticos que serão impactados. Haveria ainda impacto sob 1.510 famílias que dali tiram seu sustento e reproduzem seu modo de vida.
Os pesquisadores dizem que a planta industrial de geração de hidrogênio verde poderá produzir um gás tóxico (amônia NH3), que será disperso por chaminés, e mesmo em baixas concentrações pode prejudicar a saúde das pessoas que moram nos bairros próximos ao local escolhido para instalar a indústria, em uma área 165 hectares.