Mesmo após o cessar-fogo anunciado por Putin, Ucrânia diz que ataques continuam

Autoridades ucranianas acusam Moscou de violar cessar-fogo e levantam dúvidas sobre intenção de paz

Apesar do anúncio de um cessar-fogo temporário feito pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin, neste sábado (19), autoridades ucranianas afirmam que as forças russas continuaram atacando posições na Ucrânia durante o feriado de Páscoa Ortodoxa.

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Volodymyr Zelensky Presidente da Ucrânia

Putin havia declarado a suspensão de todas as operações militares a partir das 18h (horário de Moscou), no sábado, até o final do domingo (20), sob o argumento de “considerações humanitárias”. A ordem foi dirigida ao chefe do Estado-Maior russo, Valery Gerasimov, em uma reunião no Kremlin. Moscou ainda expressou expectativa de que a Ucrânia seguisse o exemplo.

Entretanto, a resposta ucraniana foi imediata. Segundo Andriy Kovalenko, chefe do Centro de Combate à Desinformação — órgão vinculado ao Conselho de Segurança e Defesa Nacional da Ucrânia —, a trégua russa é apenas uma “operação de informação” para desviar responsabilidades.

“Os russos estão tentando se passar por ‘pacificadores’, mas já recusaram um cessar-fogo incondicional em 11 de março e agora falam em ‘trégua’, enquanto continuam a atirar sem parar”, afirmou Kovalenko em publicação no Telegram.

Ataques em meio à trégua

O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky também se pronunciou, informando que unidades de defesa aérea estavam repelindo ataques com drones russos no mesmo dia do início do cessar-fogo. Para ele, as ações da Rússia revelam a real intenção por trás do discurso de paz.

“Isso mostra a verdadeira atitude de Moscou em relação à Páscoa e à vida das pessoas”, afirmou Zelensky.

A situação reacende o ceticismo sobre a efetividade de cessar-fogos no conflito, que já dura mais de dois anos desde a invasão em larga escala da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro de 2022. A guerra continua marcada por ofensivas letais, deslocamentos forçados e um impasse diplomático.

Contexto do conflito

Recentemente, um dos ataques mais graves deste ano atingiu Sumy, no norte da Ucrânia, deixando 34 mortos e 117 feridos após o lançamento de mísseis balísticos russos. Moscou insiste que não tem civis como alvo, mas milhares de mortes e ferimentos foram registrados desde o início da guerra.

Cerca de 20% do território ucraniano — sobretudo regiões no leste e sul — segue sob controle russo. A Ucrânia tem compartilhado informações sobre supostos crimes de guerra com aliados internacionais, e o Tribunal Penal Internacional acompanha as investigações.

Esforços diplomáticos e impasses

Apesar de tentativas de negociação, ataques continuam mesmo após anúncios de cessar-fogo. Sob a gestão Trump, os Estados Unidos mantiveram diálogo com representantes de ambos os lados. O enviado especial Steve Witkoff chegou a se reunir com Putin para discutir um possível acordo de paz, mas os resultados práticos ainda são incertos.

Zelensky, que recentemente teve um encontro tenso com o ex-presidente Trump no Salão Oval, questiona a consistência do apoio norte-americano e pede que os EUA participem de forma mais ativa na proteção do espaço aéreo ucraniano.

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