Até sábado passado, quando o governador eleito Rafael Fonteles anunciou a escolha de Marcelo Noleto, funcionário do TRT, para a secretaria de Governo, se imaginava que no futuro governo deputados cheios de cargos na Assembleia Legislativa, mandando em secretarias e outros órgãos do Governo, de porteira fechada, e bancando até os construtores, não teriam os espaços que detêm até agora na gestão Wellington/Regina.
As notícias divulgadas no Twitter de Rafael Fonteles, já na segunda-feira, se encarregaram de desmentir ou de desfazer qualquer opinião naquele sentido. Porque já se dizia que Rafael estava pior que Silvio Mendes, que se eleito, não lhes permitiria tamanho privilégio.
Até o sábado, como ninguém da mídia sabia que os nomes divulgados tinham indicação política, o comentário geral era de que Rafael estava se saindo pior que Sílvio Mendes como esperavam os deputados governistas. Pois, até a divulgação de Noleto, se imaginava que o governador sequer consultava os políticos. Ledo engano, pois.
Silvio Mendes, o candidato derrotado, era alvo de uma anedota recorrente entre seus aliados: “com ele a gente ganha, mas perde”, dizia um deputado. Com Rafael Fonteles, pelo menos até sexta-feira, a vitória dele não representava ganhos para os políticos com e sem mandato. E se eles perdem, o Piauí ganha. Outro engano.
Tudo a partir da divulgação dos três deputados para o secretariado na segunda e, mais três, nesta terça-feira, se está vendo a repetição do estilo eleitoreiro de Wellington Dias. Opera-se o tomá-la-da cá bem inescrupuloso do governador de quatro mandatos, que deixou esses mesmos escolhidos de agora mandar, desmandar, locupletar-se nos cargos do governo. A única diferença de Rafael: ele só os trocou nos cargos.
Então, o governador eleito pelo PT, a seu estilo, mostra que quem venceu com ele, ganhou. E pode ganhar muito mais. Se imaginava que na nova gestão quem levaria melhor seriam os amigos de escola de Rafael Fonteles.
Sim, porque até o final de semana ele estava sinalizando que ia governar com os amigos de escola, de infância, técnicos com bagagem suficiente para justificar a convocação. Outro erro de análise. Vão levar a melhor os amigos de infância e os amigos por interesse.
Canibalismo
Quem acompanha de perto a movimentação de deputados estaduais pelos nacos de poder na gestão Rafael Fonteles chega ser testemunha da queda de braço entre deputados (veteranos e novatos) por cargos.
Verdadeiro canibalismo. “Eles estão se matando, porque os detentores das atuais secretarias não gostariam de perdê-las, porque os contratos feitos vão além de dezembro e temem perder o que tem a receber”, diz um assessor do Palácio de Karnak.
De fato, a sangria de dinheiro na campanha eleitoral para pagamento dos contratos sem licitação (ou licitação viciada) alimentava financeiramente deputados e seus apaniguados. Como tinham a esperança de Rafael ganhar, nada mais justo que contratos para calçamento, estradas, propinas de eventos e shows pudessem passar para a próxima gestão.
O problema é que nenhum deputado “obreiro” vai seguir no mesmo cargo, deixando o construtor e o fornecedor livres para “negociar” com os novos secretários. Ou dar um tango argentino nos antigos aliados, ou seja, deixar de pagar o que resta do combinado.
Como será a divisão no baixo escalão?
Não é sem sentido, portanto, o que os próprios políticos dizem que Rafael Fonteles se elegeu com a promessa de renovação e de fazer um governo diferente, já que o critério de distribuições de cargos no Governo Wellington Dias era 100% político.
Justiça se lhe faça: Rafael, de fato, mudou. Agora a distribuição de cargos é de 20% para os amigos do colégio e 80% para os políticos.