Quatro décadas de democracia, memória e busca pelos desaparecidos da ditadura

Histórias de vítimas da repressão e a luta por justiça ainda em curso no Brasil

Há 40 anos, o Brasil retomava a democracia após um período de 21 anos de regime militar, marcado por censura, repressão e violência. Estima-se que mais de 10 mil pessoas tenham desaparecido entre 1964 e 1985, vítimas de um Estado que utilizava a tortura e o assassinato como ferramentas para silenciar opositores. Entre os desaparecidos, destacam-se Fernando Santa Cruz e Jayme Miranda, cujas histórias simbolizam a luta por memória, verdade e justiça.

Foto: Reprodução | Site do PCB | mepr.org.br
Jayme Miranda e Fernando Santa Cruz.

Fernando Santa Cruz, estudante de direito e servidor público, foi capturado em fevereiro de 1974 após se encontrar com um amigo ligado à resistência contra o regime. Testemunhos indicam que foi levado à Casa da Morte, em Petrópolis, onde foi torturado e assassinado antes de ter seu corpo incinerado. Seu filho, Felipe Santa Cruz, segue denunciando a impunidade dos responsáveis e a negação dos crimes cometidos pelo regime. Jayme Miranda, advogado e jornalista, foi preso em 1975 e torturado por 20 dias antes de ser assassinado. Seu corpo jamais foi encontrado, e a família só soube da verdade anos depois, por meio de relatos de ex-agentes do Estado.

A luta por justiça se intensificou com a criação da Comissão Nacional da Verdade (CNV), que em 2014 reconheceu oficialmente 434 mortes e desaparecimentos políticos. No entanto, especialistas indicam que o número real de vítimas é muito maior, podendo ultrapassar 10 mil pessoas, incluindo camponeses e indígenas perseguidos pelo regime. A falta de responsabilização dos agentes do Estado, protegidos pela Lei da Anistia de 1979, continua sendo um obstáculo para o encerramento desse capítulo da história brasileira.

Recentemente, o Supremo Tribunal Federal (STF) reabriu o debate sobre a possibilidade de punição para os responsáveis por desaparecimentos forçados, argumentando que esses crimes são de natureza continuada. A decisão pode representar um avanço no reconhecimento das violações cometidas pelo regime militar e abrir caminho para a responsabilização de seus agentes. Enquanto isso, familiares e organizações seguem exigindo que a verdade seja plenamente revelada e que a memória das vítimas da ditadura não seja esquecida.

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