A novela da Secretaria de Justiça do Piauí ganhou mais um capítulo, no mínimo, constrangedor. Após a ampla repercussão da matéria do Portal AZ, que revelou denúncias de exclusão ilegal de pessoas com deficiência no concurso da Polícia Penal, o então secretário Carlos Augusto Gomes de Souza foi oficialmente exonerado “a pedido”, por ato publicado em edição suplementar do Diário Oficial do Estado. Mas, pasmem: segundo ele, a exoneração durou menos de 24 horas.
O agora suposto “ex-ex-secretário”, que também é deputado estadual pelo MDB, afirmou nesta terça-feira, 15 de abril, que não deixará a pasta de forma definitiva e que a exoneração foi apenas uma “formalidade administrativa” para que pudesse “orientar a destinação de emendas parlamentares na Assembleia Legislativa”.
Segundo Carlos Augusto, a renomeação já foi assinada e deve ser publicada ainda hoje no Diário Oficial — desta vez, não em edição suplementar —, confirmando, segundo uma fonte no Palácio de Karnak, o que parece ser mais uma manobra política para conter o desgaste da gestão sem abrir mão de seus quadros mais próximos, mesmo diante de escândalos gravíssimos envolvendo a violação de direitos de pessoas com deficiência.
Carlos Augusto afirmou estar em Brasília nesta terça-feira, ao lado do governador Rafael Fonteles, como se a crise institucional que atinge diretamente a imagem da Secretaria de Justiça não merecesse nenhuma atenção mais direta, segundo um dos membros do concurso.
Exoneração estratégica ou encenação política?
A exoneração foi publicada logo após virem à tona denúncias documentadas sobre a exclusão de 11 candidatos com deficiência — já nomeados e aprovados — com base em avaliações proibidas pela legislação estadual, além da retirada de mais de 40 aprovados para favorecer candidatos com menor classificação.
“E agora, com a justificativa de que a exoneração foi apenas um ‘ato técnico’, Carlos Augusto quer retornar como se nada tivesse acontecido, como se a população piauiense fosse incapaz de enxergar a gravidade do que está ocorrendo”, disse um dos candidatos com deficiência.
Outro aprovado do grupo dos mais de 40 que foram deixados de lado afirmou, em anonimato ao Portal AZ: “A ‘exoneração técnica’ soa, para nós, como um deboche. É como se o governo dissesse: podemos tudo, inclusive voltar ao cargo no dia seguinte, mesmo após escândalos.”
Para uma fonte no Karnak, ao permitir o retorno do coronel Carlos Augusto à SEJUS, o governador Rafael Fonteles deixa claro que está disposto a bancar o desgaste político e institucional gerado por essa gestão, mesmo diante de denúncias sérias de exclusão ilegal de pessoas com deficiência — justamente em um momento em que seu governo deveria preservar a imagem pública para o pleito que se aproxima.