A Polícia Federal (PF) intimou Luiz Fernando Corrêa, atual diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), para prestar esclarecimentos em um inquérito que investiga alegadas práticas ilegais de espionagem e potencial obstrução das investigações internas. A intimação visa verificar se houve interferência da direção atual da Abin nas apurações do caso conhecido como “Abin paralela”, que examina o uso irregular da agência durante a gestão de Jair Bolsonaro.
O inquérito também apura se a atual gestão da Abin concedeu autorização ou tinha conhecimento de atividades de espionagem contra autoridades paraguaias, relacionadas às negociações da usina de Itaipu. Luiz Fernando Corrêa enfatizou sua disposição em colaborar com as autoridades e ressaltou que os eventos em investigação referem-se a decisões tomadas por administrações anteriores.
A situação revela uma complexa rede de relações próximas ao ex-presidente Lula. Corrêa foi chefe da Polícia Federal durante o segundo mandato de Lula, enquanto o atual diretor da PF, Andrei Rodrigues, liderou a segurança do presidente durante a campanha eleitoral de 2022.
O caso "Abin paralela", iniciado em 2023, investiga a possível formação de uma organização criminosa composta por funcionários da Abin, policiais e servidores, envolvida em espionagem ilegal de jornalistas, ministros do STF e outras autoridades consideradas oponentes por Bolsonaro. A ferramenta digital FirstMile teria sido empregada nessas operações ilícitas, que seguem sob escrutínio da PF.
A investigação também abarca acusações de invasões hackers a sistemas do governo paraguaio e a autoridades ligadas às negociações do tratado de Itaipu. De acordo com relatos, tais ações teriam se iniciado no governo Bolsonaro e continuado na gestão de Lula, com alegada aprovação de Luiz Fernando Corrêa e do então diretor interino Saulo de Cunha Moura.
O foco das invasões era obter informações sigilosas sobre valores relativos ao acordo que regula o pagamento do Brasil ao Paraguai pela energia gerada na usina binacional. O governo Lula afirmou ter cessado imediatamente tais operações ao ter conhecimento delas, em maio de 2023.