Entidades LGBTQI+ lançam manifesto contra ausência de políticas públicas no PI
Organizações protestam contra medidas aprovadas que nunca foram implementadas
Organizações da sociedade civil que atuam na defesa dos direitos da população LGBTQI+ do Piauí lançaram, nessa terça-feira (02), um manifesto contra o Governo do Estado. No documento, as entidades alegam a “total ausência de políticas públicas em favor dos mais de 320 mil LGBTQI+ que habitam o solo piauiense”.

As entidades signatárias do manifesto são: Grupo Matizes, Grupo Guará, Articulação Piauiense de Travestis e Transexuais (APTTRA), Coletivo Caroá, Fórum Nacional de Travestis e Transexuais Negras e Negros (FONATRANS), Grupo Brasileiro de Promoção da Cidadania (GGLOS LGBT) e Associação de Travestis, Transexuais e Transgêneros do Estado do Piauí (ATRAPI).
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Entre as reivindicações presentes no manifesto estão a ativação do Conselho Estadual LGBT, a ativação do Disque Diversidade, para falitar o recebimento de denúncias e a criação de uma comissão para analisar as sanções administrativas a serem aplicadas em casos de discriminação.
De acordo com as entidades, todas essas medidas já estavam previstas e não foram aplicadas pelo governo do estado.
As organizações que assinaram o manifesto denunciam a violência crescente contra o grupo e o sucateamento das poucas políticas em vigor, o que evidencia o descaso do governo com a população LGBTQI+.
O documento ressalta que o Piauí já foi reconhecido por suas ações afirmativas e políticas públicas de promoção da cidadania de LGBTQIA+, no entanto, recentemente, essas políticas têm sido desmontadas.
Confira na íntegra o Manifesto:
As abaixo-assinadas, organizações da sociedade civil que atuam na defesa dos direitos da população LGBTQI+ do Piauí, vêm a público externar indignação e descontentamento com o quadro desolador de total ausência de políticas públicas em favor dos mais de 320 mil LGBTQI+ que habitam o solo piauiense.
É fato que, outrora, o Piauí se notabilizou por ser um dos estados do Brasil com mais ações afirmativas e políticas públicas de promoção da cidadania de LGBTQIA+. Há que se ressaltar, porém, que todos os avanços ocorridos no estado são resultado da ação de organizações da sociedade civil, que sempre foram bastante propositivas no diálogo com o poder público. Vide exemplo da criação da Delegacia de Direitos Humanos, instituída pela Lei Complementar 51/2006, após reivindicação da sociedade civil.
Ocorre que, nos últimos tempos, houve um desmonte dessas políticas em nosso estado, resultando no aumento de mortes e outras violências contra a população LGBTQI+ do Piauí. A despeito de o Piauí ter uma coordenação de políticas para a população LGBTQI+, infelizmente inexistem políticas públicas resultado da ação dessa coordenação.
Apesar de o governador do estado ter sido eleito usando à exaustão que uma das prioridades de seu governo seria “não deixar ninguém para trás”, na verdade, nós, os mais 320 mil LGBTQI+ que habitamos em solo piauiense, temos visto é o aumento da violência, o sucateamento das poucas políticas que ainda restam. Até o diálogo com as organizações da sociedade civil tem sido travado nestes governos, porque a gestão, apesar de provocada, não recebe as OSC que atuam na defesa e promoção dos direitos de LGBTQI+!
Elencam-se 3 exemplos que ilustram bem o descaso do Governo do Piauí com a população LGBTQI:
I) O Conselho Estadual LGBT está, até agora, desativado e o processo instaurado para eleição das organizações da sociedade civil tem se notabilizado por falta de transparência, erros crassos;
II) A Lei Estadual nº 5431, que dispõe sobre sanções administrativas a serem aplicadas nos casos de discriminação contra LGBTQIA+ está em vigor desde 2004 (portanto, há 19 anos!). Referida Lei foi regulamentada pelo Decreto nº 12097, de 15 de fevereiro de 2006. Pois bem, o art. 11 desse Decreto contém a seguinte disposição: “Fica autorizada a secretaria de justiça e de direitos humanos, a criar o serviço disque diversidade gratuito, a fim de facilitar o recebimento de denúncias.” Até hoje, esse serviço não foi criado.
III) A citada Lei nº 5431/2004 – e o Decreto que a regulamenta, prevê a criação de uma Comissão composta por 3 membros e nomeada por ato do secretário de justiça e direitos humanos. Referida comissão teria a incumbência instaurar o procedimento administrativo e instruí-lo, a fim de apurar as denúncias de discriminação recebidas. Essa Comissão nunca foi criada, impedindo que a Lei 5431/2004 tenha efetividade. Acrescenta-se que, em virtude da inércia do estado do Piauí, o ministério público ajuizou ação, pleiteando que o Judiciário determinasse a criação da referida comissão.
Em setembro de 2022, a 5ª Câmara de direito público, por unanimidade, manteve a sentença do juiz singular, determinando que a secretaria estadual de justiça instaurasse a Comissão prevista na Lei 5431/2004 e Decreto nº 12097/2006, porém até agora, desconhece-se ato administrativo cumprindo a determinação judicial.
É o Governo do Piauí, mais uma vez, cumprindo sua vocação de deixar-nos para trás! A única ação efetiva deste é manter a gratificação de um grupinho de LGBT apadrinhados, que estão há mais de 10 anos aboletados em cargos comissionados, atuando de forma sofrível e sem encaminhar ações concretas em favor da população LGBTQI+ do Piauí.
Diante do exposto, as organizações signatárias deste manifesto reiteram compromisso com os direitos da população LGBTQI+ do Piauí, ao tempo em que reivindicam a implantação de ações efetivas que contribuam para a ampliação dos direitos das pessoas LGBTQI+. Chega de enganação! Chega de embromação!
Fonte: Portal AZ