Luís Correia afunda no caos: violência, lixo, falta de água e energia
Colapsa o potencial turístico da cidade litorânea
O paraíso litorâneo que deveria ser símbolo de desenvolvimento no Piauí está se tornando um retrato do abandono. Saí de Teresina para o litoral do Piauí, foram quatro horas de viagem até Luís Correia, cidade com pouco mais de 30 mil habitantes.

Apesar do pórtico não terminado, a entrada da cidade caiçara tem um centro urbano bastante organizado. Mas nas horas seguintes a minha chegada, ao adentrar mais a cidade, a realidade da entrada não era as mesmas dos bairros afastados da cidade. Moradores relatam que vem enfrentando um colapso silencioso que ameaça não apenas o cotidiano da população, mas também o futuro do turismo na região.
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Passado tanto pela violência crescente, sujeira acumulada nas ruas, infraestrutura de saneamento inexistente e chegando ao que mais se queixam, a constante falta de água e energia elétrica.
Tudo isso tem formado um cenário que assusta moradores e espanta visitantes. Moradores com casas de aluguel e hotel dizem que o turismo está morrendo aos poucos e sem capacidade de investimentos e crescimento econômico além do turístico, a morte da cidade logo virá.
Cidade turística, mas sem estrutura
Apesar do discurso otimista em torno da inauguração do Porto de Luís Correia, em 2023, feitas pelo governador Rafael Fonteles, a realidade nas ruas mostra que nenhum investimento relevante chegou às áreas mais críticas da cidade.
Enquanto o governo estadual promete dobrar o PIB do Piauí com a movimentação portuária, o município continua atolado em números vergonhosos: apenas 0,04% da população é atendida por rede de esgoto — índice que beira o inexistente. O lixo, que deveria ser coletado com frequência em uma cidade que recebe até cinco vezes sua população em feriados prolongados, simplesmente não chega a mais da metade dos domicílios.
No escuro e com sede
Nos meses de alta temporada, como janeiro e julho, a cidade chega a receber mais de 150 mil pessoas, mas a infraestrutura de água e energia permanece a mesma.

O resultado são torneiras secas, banhos de balde e apagões constantes. Em muitas regiões, moradores e turistas enfrentam dias sem abastecimento, vivendo sob improvisos. A Agespisa, estatal de águas e esgoto do Piauí, não consegue lidar com a demanda crescente, e a Equatorial Piauí concessionária que fornece luz para região, falha em garantir energia estável — postes caem, fios se rompem, e mesmo sem esses fatos pontuais, o breu se instala mesmo com céu limpo e quase todos os dias. O cenário remonta a um passado que cidades turísticas sérias já superaram há décadas.
Crime e medo
Como se não bastasse a negligência estrutural, Luís Correia vive sob a ameaça crescente das facções criminosas. O município, que já foi sinônimo de tranquilidade à beira-mar, hoje figura nos relatórios da Polícia Militar como área de atuação e domínio do Primeiro Comando da Capital (PCC). Investigações revelam a presença da facção em bairros como Santa Luzia e Porto do Rogério, com execuções, tráfico de drogas e tribunais do crime.

Em 2024, dois membros do PCC foram presos por participar do assassinato de Gildevan Rocha, jovem executado por rivalidade entre facções. O caso escancarou a disputa sangrenta por território em pleno litoral piauiense. No mesmo ano, lideranças do crime foram presas comandando torturas e ameaças contra moradores.
Tudo isso em um município que deveria atrair famílias em busca de paz e descanso.
Turismo em risco, futuro incerto
A verdade para além dos ‘releases’ da secretaria de Turismo do Piauí é que o sonho de transformar Luís Correia em uma vitrine turística do Nordeste está escorrendo pelo ralo da incompetência administrativa e do abandono crônico.

Os dados falam por si, quando se sabe que quase metade da água captada na cidade se perde antes de chegar às casas; fossas sépticas são mais comuns que rede de esgoto; e a violência, antes concentrada nos grandes centros urbanos, hoje faz parte da rotina local.

A promessa de crescimento com o novo porto só aumentou a pressão sobre uma cidade sem planejamento e sem investimentos paralelos. Se nada for feito, o que poderia ser um polo turístico e logístico de referência no Brasil vai se tornar apenas mais um retrato de potencial desperdiçado.
E enquanto o poder público continua tratando Luís Correia com discursos vazios e maquiagem estatística, quem vive ali — e quem ainda se aventura a visitar — é que paga a conta da omissão e sonha em se mudar para Parnaíba
Fonte: Portal AZ