Ministro Lupi ignorou alerta sobre fraudes no INSS por quase um ano

Ata mostra que ministro soube de fraudes em 2023, mas só agiu após avanço da PF

Por José Ribas Neto,

O Jornal Nacional revelou neste sábado (26) que o ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, foi formalmente alertado em junho de 2023 sobre problemas nos descontos automáticos aplicados a aposentadorias e pensões, mas só tomou medidas efetivas quase um ano depois. As informações constam de atas do Conselho Nacional de Previdência Social (CNPS), presidido pelo próprio Lupi, e acessadas pela TV Globo e pelo jornal O Globo.

Foto: Fátima Meira/Estadão ConteúdoCarlos Lupi e Lula
Carlos Lupi e Lula

Segundo as atas, em reunião realizada em 2023, a conselheira Tonia Andrea Inocentini Galleti, representante dos aposentados e pensionistas, pediu a inclusão na pauta de uma discussão urgente sobre os Acordos de Cooperação Técnica (ACTs) firmados entre entidades sindicais e o INSS, que permitiam descontos diretos nos benefícios. Galleti alertou para o aumento de denúncias de irregularidades e cobrou um levantamento detalhado sobre as entidades conveniadas, o crescimento de filiados e propostas de regulamentação mais rigorosa.

Carlos Lupi reconheceu a relevância do tema, mas recusou debater o assunto naquele momento, alegando que a pauta da reunião já estava fechada. Apesar da promessa de retomar o tema na reunião seguinte, isso não ocorreu. O assunto só voltou à pauta do CNPS em abril de 2024, quando a Controladoria-Geral da União (CGU) e a Polícia Federal já avançavam na investigação que resultaria na operação “Sem Desconto”, deflagrada nesta semana.

A operação apura um esquema que teria desviado mais de R$ 6 bilhões de aposentadorias e pensões por meio de descontos não autorizados, envolvendo entidades sindicais e associações de classe. Especialistas apontam que a demora em agir permitiu a continuidade e até a ampliação das fraudes durante o período.

A repercussão negativa atinge em cheio a gestão de Lupi. Integrantes do governo Lula afirmaram, sob reserva, que o ministro foi omisso diante dos alertas e tentou minimizar a gravidade do escândalo quando a operação veio a público. Além disso, a postura adotada gerou incômodo dentro da própria Esplanada dos Ministérios, em meio ao desgaste político provocado pela crise no INSS.

Em resposta às denúncias, o Ministério da Previdência só publicou novas regras para regulamentar os descontos em março de 2024, quase nove meses após o primeiro alerta registrado em ata.

Fonte: Jornal Nacional e O Globo

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