Estudo aponta presença de agrotóxicos na água da chuva em cidades paulistas
Pesquisa da Unicamp detecta 14 tipos de pesticidas em amostras coletadas de 2019 a 2021
A água da chuva pode não ser tão pura quanto parece. É o que indica um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que detectou agrotóxicos em amostras coletadas nas cidades paulistas de Campinas, Brotas e São Paulo. Os resultados acendem um alerta para o uso da água de chuva como fonte de abastecimento humano.

Publicada na revista científica Chemosphere e divulgada pela Revista Fapesp, a pesquisa analisou amostras colhidas entre agosto de 2019 e setembro de 2021. Em todos os locais examinados, foi identificada a presença de herbicidas, fungicidas e inseticidas na água pluvial.
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Contaminação variou conforme uso do solo
Os resultados mostraram que a concentração de agrotóxicos na água da chuva é proporcional à intensidade da atividade agrícola da região. Campinas, onde a agricultura ocupa quase metade dos 795 km² do território municipal, apresentou a maior carga de resíduos, com 701 microgramas por metro quadrado (µg/m²). Em seguida vem Brotas, com 680 µg/m² (30% da área com cultivo), e, por fim, São Paulo, com 223 µg/m², onde apenas 7% da área urbana é destinada à agricultura.
Entre os 14 pesticidas identificados, chamou a atenção dos pesquisadores a presença do herbicida atrazina, proibido no Brasil, mas detectado em todas as amostras das três cidades analisadas.
“A ideia de que, ao tomar água de chuva, estamos consumindo uma água limpa não é totalmente verdadeira. O estudo levanta um alerta importante sobre o uso dessa água”, afirmou à Revista Fapesp a coordenadora da pesquisa, Cassiana Montagner.
Implicações para o abastecimento humano
A pesquisa sugere que o uso da água da chuva para consumo humano, principalmente em áreas próximas a regiões agrícolas, deve ser feito com cautela e monitoramento constante. A presença de substâncias químicas potencialmente tóxicas levanta preocupações sobre os riscos à saúde pública e a eficácia das práticas de coleta e filtragem desse tipo de água.
Apesar dos resultados, os pesquisadores destacam que o estudo não tem o objetivo de alarmar a população, mas sim de informar e subsidiar políticas públicas voltadas à segurança hídrica e ambiental.
A discussão sobre o impacto dos agrotóxicos no meio ambiente e na saúde das populações urbanas e rurais tem se intensificado nos últimos anos, especialmente em um país com forte presença do agronegócio como o Brasil. O estudo da Unicamp se insere nesse debate e propõe novas reflexões sobre o ciclo da água em áreas de produção intensiva.
Fonte: Unicamp