Mauro Vieira defende papel diplomático do Brics para solução globais
Em reunião no Rio, chanceler brasileiro pede esforço conjunto pela paz e por reformas globais
O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, defendeu nesta segunda-feira (28) o fortalecimento da atuação diplomática dos países do Brics — bloco formado por 11 nações emergentes e em desenvolvimento — na busca de soluções para guerras e conflitos regionais. A declaração foi feita na abertura do encontro de chanceleres do grupo, realizado no Palácio do Itamaraty, no Rio de Janeiro, e que segue até esta terça-feira (29).

O evento reúne ministros das Relações Exteriores dos países-membros, entre eles Sergey Lavrov, representante da Rússia, nação envolvida na guerra contra a Ucrânia desde fevereiro de 2022. Embora não tenha citado diretamente a Rússia, Vieira destacou que o conflito "continua a causar pesado impacto humanitário" e ressaltou "a necessidade urgente de uma solução diplomática que defenda os princípios da Carta das Nações Unidas".
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O ministro brasileiro lembrou ainda iniciativas anteriores do Brasil em conjunto com a China, como a criação do Grupo de Amigos da Paz, estabelecido em 2023 em Nova York para articular esforços diplomáticos de países do Sul Global.
Multilateralismo em destaque
Vieira salientou que a reunião ocorre em um contexto de múltiplas crises globais — como emergências humanitárias, instabilidade política e a erosão do multilateralismo — e reforçou a importância do Brics como um ator capaz de promover a paz e a estabilidade. Segundo o chanceler, o grupo, que representa quase metade da população mundial, deve ser uma "força para o bem", defendendo o diálogo, o desenvolvimento e a cooperação.
O ministro reafirmou a defesa de um mundo multipolar, "onde a segurança não é privilégio de poucos, mas um direito de todos", sem confrontos diretos, mas por meio da cooperação mútua. Ele também destacou que o Brics reconhece "os interesses estratégicos e legítimos interesses econômicos e de segurança de cada membro".
No exercício da presidência temporária do bloco, o Brasil propõe a reforma do Conselho de Segurança da ONU, para incluir novos membros permanentes e refletir as realidades geopolíticas atuais, dado que atualmente apenas cinco países possuem poder de veto: Estados Unidos, Reino Unido, França, China e Rússia.
Conflitos no Oriente Médio e na África
Vieira também abordou outras crises, como a situação nos territórios palestinos ocupados, criticando a retomada dos bombardeios israelenses em Gaza e a obstrução à ajuda humanitária. O ministro pediu uma cessação permanente das hostilidades e reafirmou a defesa brasileira da solução de dois Estados, com um Estado palestino viável e Jerusalém Oriental como capital.
Outros conflitos, como a crise humanitária no Haiti, tensões no Sudão, na região dos Grandes Lagos e no Chifre da África foram igualmente mencionados. O chanceler reforçou que o acesso humanitário em zonas de conflito deve ser "incondicional e imparcial" e que "o sofrimento humano jamais deve ser instrumentalizado".
Sobre o Brics
Criado em 2006, o Brics — originalmente formado por Brasil, Rússia, Índia e China, e ampliado em 2011 com a entrada da África do Sul — expandiu-se em 2023 para incluir Egito, Etiópia, Irã, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e, mais recentemente, Indonésia. A Argentina, inicialmente convidada, recusou sua entrada em 2024.
Atualmente, o grupo representa 39% da economia global, 48,5% da população mundial e tem grande relevância no setor energético e de minerais estratégicos, com destaque para reservas de terras raras.
Prioridades da presidência brasileira
Durante sua presidência temporária, o Brasil estabeleceu como prioridades a cooperação entre países do Sul Global e a formação de parcerias para o desenvolvimento social, econômico e ambiental. O ponto alto da gestão será a reunião de cúpula dos chefes de Estado e governo, prevista para os dias 6 e 7 de julho, também no Rio de Janeiro.
Além das sessões plenárias, Mauro Vieira realiza encontros bilaterais com representantes de países como Indonésia, Rússia, China, Etiópia, Tailândia, Nigéria e Cuba, reforçando a intenção brasileira de ampliar laços diplomáticos e de cooperação.
A expectativa é que o Brics, sob liderança brasileira, reforce seu papel no cenário internacional como um agente de paz e desenvolvimento sustentável.
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Fonte: Agência Brasil