Do PT ao MDB: PF investiga vínculos de sindicatos com partidos em caso do INSS
Entidades sindicais com vínculos ao PT, PDT, PSB e MDB são suspeitas de descontos irregulares em benefícios de aposentados
As investigações conduzidas pela Polícia Federal e pela Controladoria-Geral da União (CGU) sobre descontos não autorizados em benefícios do INSS expuseram um intricado esquema de conexões políticas entre confederações sindicais e partidos como PT, PDT, PSB e MDB. A ofensiva mira entidades que, juntas, foram responsáveis por aproximadamente 60% dos abatimentos aplicados nas aposentadorias em fevereiro de 2025.
No centro das apurações está a Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura), presidida por Aristides Veras dos Santos, irmão do deputado federal Carlos Veras (PT-PE), atual primeiro-secretário da Câmara. A Contag aparece como a maior beneficiária dos descontos: somente em fevereiro deste ano, recebeu R$ 36,5 milhões oriundos de 1,2 milhão de aposentados.
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Além de Aristides, a investigação também recai sobre a ex-secretária-geral da entidade, Thaisa Silva, que, nos últimos anos, ocupou cargos políticos vinculados ao PSB e ao MDB, incluindo uma candidatura a vereadora em Campo Grande (MS).
Procurada, a Contag reagiu duramente. Em nota, afirmou que seria “grosseiro” equipará-la a instituições investigadas por fraudes e destacou que não existe ligação entre o mandato do deputado Carlos Veras e os acordos firmados com o INSS. Veras, por sua vez, defendeu a legitimidade de sua trajetória política, alegando vínculos históricos com o movimento sindical e a agricultura familiar.
Segundo dados do Tribunal de Contas da União (TCU), a Contag não apresentou crescimento atípico em sua base de filiados entre 2021 e 2023 — caiu de 1,5 milhão para 1,4 milhão de associados —, um comportamento que a difere de outras entidades sob suspeita.
Outro nome que chama atenção é o de José Ferreira da Silva, o Frei Chico, irmão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e atual vice-presidente do Sindiapi (Sindicato dos Aposentados, Pensionistas e Idosos da UGT). A entidade, hoje presidida por Milton Cavalo, dirigente do PDT, apresentou um salto expressivo no número de associados: de 8.900 em 2021 para 54.800 em 2023, chegando a 207 mil descontos em folha em fevereiro deste ano.
Apesar de negar ter sido alvo de operações de busca e apreensão, o Sindiapi confirmou apoiar as investigações e disse estar comprometido em esclarecer eventuais irregularidades.
As suspeitas ganham ainda mais peso diante dos números apurados pela PF: entre 2019 e 2024, os descontos aplicados nas aposentadorias e pensões das entidades investigadas somam cerca de R$ 6,3 bilhões.
O desafio agora é identificar qual fração desse valor corresponde a cobranças feitas sem a devida autorização dos beneficiários.
Fonte: Folha de São Paulo