Wellington Dias participou de reuniões com entidades suspeitas de roubo no INSS
Fugindo da imprensa, até o momento o ministro do Piauí finge que não é com ele
Levantamento realizado com base em registros oficiais revela que representantes do governo federal, incluindo os ministros Wellington Dias (Desenvolvimento Social) e Carlos Lupi (Previdência), participaram de pelo menos 15 reuniões com as entidades atualmente investigadas por suspeita de fraudes em descontos associativos em benefícios do INSS.

Esses encontros, realizados entre 2023 e 2025, ocorreram nas sedes do Ministério da Previdência, do Ministério do Desenvolvimento Social e do próprio INSS, órgãos diretamente ligados à gestão de aposentadorias e auxílios sociais. O ex-presidente do Instituto, Alessandro Stefanutto, que deixou o cargo após a operação da Polícia Federal, também participou de diversas dessas reuniões.
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A Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura) foi a organização mais frequentemente recebida: esteve presente em 13 das 15 reuniões.
Segundo a Controladoria-Geral da União (CGU), a entidade figura entre as que mais arrecadaram com os descontos em folha investigados, embora afirme ter tratado com o governo sobre medidas de segurança e transparência nas cobranças.

Outras entidades envolvidas nas reuniões incluem a Sindnapi presidida por Frei Chico, irmão do presidente Lula, além de AAPB, Aapen, AAPPS Universo, Ambec, APDAP Prev, Caap, Conafer, ABCB/Amar Brasil e Unaspub. Todas são citadas na investigação da operação Sem Desconto, deflagrada em 23 de abril pela Polícia Federal e pela CGU, que identificou irregularidades em descontos feitos diretamente nos benefícios de mais de 1.200 aposentados e pensionistas.
Auditoria aponta falta de autorização e indícios de falsificação
Segundo a CGU, mais de 97% dos entrevistados afirmaram não ter autorizado os descontos em seus benefícios, e 96% não pertencem a nenhuma associação.
As informações foram coletadas em auditoria realizada entre abril e julho de 2024, abrangendo todos os estados do país. O relatório, divulgado apenas em abril de 2025, aponta indícios de falsificação de autorizações e fragilidade nos controles internos do INSS.

O valor dos descontos disparou nos últimos anos: R$ 706 milhões em 2022, R$ 1,3 bilhão em 2023 e R$ 2,8 bilhões em 2024. Em abril deste ano, 192 mil solicitações de cancelamento de descontos foram registradas no sistema do INSS, evidenciando o descontentamento da base de beneficiários.
Governo suspende acordos e investiga atuação das entidades
Como reação à operação da PF, o governo suspendeu todos os Acordos de Cooperação Técnica (ACTs) com as entidades investigadas e interrompeu os descontos de mensalidades associativas. A investigação revelou que 70% das 29 entidades contratadas não apresentaram a documentação completa exigida para operar legalmente junto ao INSS.

Entre os afastados por determinação judicial, estão o ex-presidente do INSS Alessandro Stefanutto, o procurador-geral do órgão, Virgílio Ribeiro, e outros quatro servidores, além de um policial federal cujo nome não foi revelado. Os crimes investigados incluem corrupção, organização criminosa, violação de sigilo funcional, falsificação de documentos e lavagem de dinheiro.
Durante a deflagração da operação, o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, e o ministro da CGU, Vinícius de Carvalho, reuniram-se com o presidente Lula no Palácio da Alvorada para detalhar a operação e suas repercussões.
Como funcionava o esquema
As entidades formalizavam acordos com o INSS para realizar descontos automáticos em folha, mediante autorização do beneficiário. No entanto, a investigação revelou ausência de comprovação das autorizações e, em muitos casos, evidências de fraude documental.
A CGU constatou que várias associações não tinham estrutura compatível com os serviços que declaravam prestar. Além disso, não houve controle efetivo por parte do INSS para validar se os beneficiários estavam, de fato, cientes dos descontos.
O governo orienta aposentados e pensionistas a verificar seus extratos no aplicativo Meu INSS e, em caso de descontos indevidos, solicitar o cancelamento imediato.
Até o momento não se tem a versão do ministro Wellington Dias sobre as reuniões de que participou com os suspeitos da fraude.
Fonte: Poder 360