A política real

07/06/2020 00:00
Atualizado 27/08/2023 | 19:58

Bolsonaro faz um discurso replicado por sua base, segundo o qual ele não faz a velha política, não troca cargos por apoio parlamentar, tampouco ceva uma base no Congresso com liberações de emendas. Mas entre o discurso e a realidade existe uma grande distância, e todos, do presidente aos bolsominions da praça dos Três Poderes, fingem que nada fizeram. Porque, em que pese a vontade do presidente de não ceder ou mesmo seu fingimento em dizer que não fez concessões, há um desenho institucional de poder que dificulta o exercício do poder sem que se estabeleça o que se convencionou a chamar de “presidencialismo de coalizão”. Desde Sarney e, sobretudo após a Constituição de 1988, governar sem uma base parlamentar, mesmo adquirida à base de fisiologia, tem sido tarefa impossível. Dois presidentes que desafiaram essa condição – Fernando Collor e Dilma Rousseff – tiveram seus mandatos abreviados. Bolsonaro, que fez o mesmo, parece que se deu conta de que se não for à cata de apoio, pode ele também perder a faixa presidencial. Não é sem razão que a liberação de emendas parlamentares segue em ritmo acelerado. Somente em abril, R$ 6,2 bilhões foram empenhados, ou seja, quando o governo deu garantia de que a despesa será paga. Este é o maior valor para um único mês desde 2016, ano em que o monitoramento individual das emendas passou a ser possível. Além desse agrado, o presidente segue nomeando pessoas ligadas aos partidos do Centrão, de modo a garantir não a governabilidade que se tenta obter no “presidencialismo de coalização”, mas o próprio pescoço sobre os ombros. Segundo levantamento de O Globo, publicado ontem, Bolsonaro já entregou 325 cargos ao grupo do Congresso denominado Centrão. Segundo o jornal, desde julho do ano passado, parlamentares já pediram a nomeação para mais de 700 cargos federais — em 325 deles, ou 45% dos casos, o pleito foi atendido. Cerca de 200 foram rejeitados pelo governo, e o restante ainda aguarda aprovação. Ou seja, o governo de Bolsonaro é mais do mesmo quando se trata de negociação parlamentar. O resto é crença de gente cheia de boa vontade ou sem vontade de admitir o óbvio: Bolsonaro não é, não foi, nem nunca poderá ser protagonista de mudança política.

Na série de projetos folclóricos e desnecessários: o deputado Gessivaldo Isaias apresenta projeto antecipando o Dia do Piauí, que, por decisão do governador, já foi antecipado, este ano (Foto: Portal AZ)

O bicho vai pegar

Essa questão do racismo no mundo deu ruim para o Bolsonaro. É uma bandeira muito forte. A grande diferença é que ela traz em si uma comoção social. Antirracismo soa melhor que antifascismo.
Pelo andar da carruagem o bicho vai pegar contra presidentes racistas.

Risco maior

Cajueiro da Praia, que estava livre da covid-19, registrou quatro casos da doença. Com isso, entre as cidades da Planície Litorânea, somente Murici dos Portelas não tem casos do vírus. Assim, deve-se manter vigilância maior e distanciamento social, porque a transmissão comunitária segue firme, dizem especialistas.

Sem covid-19 1

Até ontem, eram as seguintes as cidades do Piauí sem casos de covid-19: Agricolândia, Arraial, Aroeiras do Itaim, Barra D’Alcântara, Flores, Floresta do Piauí, Geminiano, Jacobina, Jardim do Mulato, Jatobá do Piauí, João Costa, Joca Marques, Jurema, Lagoa Alegre, Massapê do Piauí, Miguel Leão.

Sem covid-19 2

Também não apresentam casos da doença as cidades de Nossa Senhora de Nazaré, Nova Santa Rita, Novo Oriente do Piauí, Paes Landim, Pajeú, Palmeira do Piauí, Paquetá, Patos do Piauí, Prata do Piauí, Riacho Frio, Santa Rosa, Santo Antônio dos Milagres, Santo Inácio, São Braz, São Félix, São Gonçalo do Gurgueia, São João da Varjota, São Miguel do Fidalgo, Sebastião Barros, Sebastião Leal, Tamboril, Tanque e Wall Ferraz,

Milagres

Na lista acima não conta Santa Cruz dos Milagres, mas essa cidade de 4 mil moradores, ponto de peregrinação católica, não registrava até ontem nenhum caso da covid-19.
O prefeito local, Wilney Rodrigues de Moura, é médico e a padroeira católica é uma cruz que o povo considera milagrosa.
Faz sentido, né?

Porta-voz

Outra cidade sem a covid-19 até ontem era São Félix, terra do colega jornalista Marcos Teixeira, que se autodeclara o assessor de imprensa da Santa Cruz dos Milagres.
Vai que as graças da cidade vizinha se estenderam até a terra do Marcos Teixeira, né?

Precaução

E olhem só que curioso: mesmo estando na lista de cidades que ainda não registraram caso da doença, a Prefeitura de Barra D’Alcântara cumpriu recomendação do Ministério Público estadual para contratar uma empresa funerária “por precaução”.
Nessa banda do MP deve ter o pregoeiro do agouro. Só pode.

Fechado

Com 20 casos de covid-19 confirmados e 85 pessoas em isolamento, o município de Dom Inocêncio, no sudeste do Piauí, vai fazer bloqueio total a partir de amanhã, segunda-feira.
Mas a prefeitura do município não informou quanto tempo vai durar o fechamento de todas as atividades econômicas na cidade.

Lagoa

Na semana passada, a pequena cidade de Lagoa de São Francisco, cercada por municípios com muitos casos da doença, não registrava um único registro.
Mas a doença chegou por lá, com registro de dois casos.

Ruído de comunicação

O governo Bolsonaro escolhe pessoas por ideologia, não por competência. Isso pode ser bom para o governo, mas é péssimo para a gestão.
Uma prova disso é a decisão de retardar a divulgação de dados de vítimas da covid-19, para não dar audiência ao Jornal Nacional. Tiro no pé, tiro pela culatra. A audiência aumentou e o interesse pelos dados, mais ainda.

Gustavo Neiva (Foto: Lucas Sousa / Portal AZ)

Previdência

Na edição de ontem, registramos que o deputado Gustavo Neiva (PSB), líder da oposição, cobrava diferença entre os ganhos com a reforma da Previdência estadual, com R$ 1 bilhão nas contas do governador e R$ 200 milhões nas contas da Piauí Previdência.
Pois na mesma semana, Wellington Dias assinou uma suplementação orçamentária para abrir crédito de R$ 40 milhões a encargos previdenciários.

Legisladores

Deputados estaduais estão praticamente com uma fábrica de projetos de lei. Na semana passada, 15 projetos passaram a tramitar na Assembleia Legislativa, a maioria deles tratando de ações relacionadas à pandemia de covid-19.

Termômetros

Boa parte dos projetos não precisaria existir, porque bastaria o bom senso para se levar a cabo as ações que eles propõem, como é o caso do projeto de lei de autoria do deputado estadual Francisco Lima, que prevê o uso de instrumentos termográficos para aferição e temperatura em órgãos do Estado.

Custo a mais

O mesmo deputado estadual petista quer que sejam feitos seguros de vida para profissionais que prestem serviço em estabelecimento de saúde.
O custo das apólices, naturalmente, vai para o valor a ser pago pelos serviços de saúde.

Não é nada...

Trocando em miúdos, isso não é nada, não é nada, não é nada mesmo.

Deputado B.Sá Filho (Foto: Lucas Sousa / Portal AZ)

Gordinhos

O deputado estadual B. Sá (PP) quer que seja criado no Piauí um cadastro de obesidade infantil. Não se sabe se haverá o nome das crianças acima do peso, mas a ideia é meio despropositada, porque tem aquela enorme possibilidade de estabelecer um carimbo entre gordos e magros.
É um passo para a discriminação e o bullying.

Tá atrasado!

O deputado estadual Gessivaldo Isaías (Republicanos) apresentou na semana passada um indicativo de projeto de lei autorizando a antecipação do feriado do dia do Piauí.
Só se for no ano que vem, porque neste ano, uma lei estadual aprovada pelos deputados estaduais já antecipou esse feriado.
E já foi ‘comemorado’ pelos piauienses por decisão do governador.

Receptação

Olhem só essa: um comerciante da cidade de Paulistana recebeu 100 telefones celulares roubados nas Casas Pernambucanas em São Paulo. A PM chegou antes e acabou com a festa do receptador.
Mas ele já tinha vendido 14 aparelhos e foi preso por receptação.

Dedo na ferida

Nunca, antes, na história deste país, alguém foi tão honesto e direto quanto FHC.
Ontem, na CNN, ele simplesmente disse que ‘Lula, já era’.

Ping-Pong
História e votação

Quando governador do Piauí, Freitas Neto vai a Oeiras. Um séquito de oeirenses ilustres o acompanha na visita a vários prédios do casario histórico da cidade. Freitas se dirige ao Solar dos Ferraz. O prédio precisava de uma restauração e a visita tinha por objetivo sensibilizar o governador para que liberasse os recursos necessários à obra. Freitas, atento a tudo, ouve explicações de Pedro Ferrer de Freitas e outros eruditos oeirenses.

Ferrer - "Governador, neste local funcionou a primeira Câmara Municipal do Piauí."
Freitas - "Ferrer, em história em não estou interessado, porque sei que aqui também funcionou uma sessão eleitoral e eu venci por ampla maioria o meu adversário."