Projeto Veredas desenvolve ações e preserva a cultura de comunidades quilombolas no Sul do Piauí

Alunos de colégio no estado de São Paulo realizam o projeto com as famílias de origem quilombolas do estado

Por Karine Rocha e Renayra de Sá,

O Projeto Veredas atende comunidades quilombolas, ao sul do Piauí, onde desenvolve atividades socioeconômicas e de preservação da cultura e tradições das famílias que habitam aquela região. Tudo começou com alunos do 9º ano do Colégio Santa Cruz, de São Paulo, que visitaram o Parque Nacional Serra da Capivara para participarem de outros projetos escolares, quando surgiu o desejo de contribuirem socialmente com a população, a qual criaram um grande vínculo. 

Centro de convivência (Fotos: Divulgação)

"No 9º ano do colégio, todos os alunos fazem a esperada viagem ao sul do Piauí, mais especificamente para a região da Serra da Capivara, em meados de junho. Além da experiência marcante, vínculos fortes e duradouros são criados com o local e com as comunidades que são visitadas. Quando retornamos, a sensação de completa epifania permanece e os projetos escolares são desenvolvidos tendo como base a viagem e a iniciativa dos estudantes. Acredito que esse processo, em algum momento, não foi suficiente para alguns, que queriam fazer mais por esse lugar especial. Foi naquele momento em que se iniciou o que viria a ser o Projeto Veredas", explica Rodrigo Pimentel, um dos voluntários da iniciativa, ao Portal AZ. 

Alunos do Colégio Santa Cruz (Foto: Divulgação)

Atualmente o projeto conta com 25 estudantes dos três anos do ensino médio e a cada ano o número de voluntários aumenta. Além dos voluntários permanentes, arquitetos, advogados, administradores e professores auxiliam os alunos.

O grupo ainda tem ideias para desenvolver com as comunidades. Nesse período estão trabalhando com a Lagoa das Emas e com a comunidade Novo Zabelê, na região da Serra da Capivara, no sul do Piauí.

 Por causa da pandemia, uma das obras teve de ser interrompida (Foto: Divulgação)

"A nossa intenção com os nossos projetos é fazer a diferença na comunidade como um todo. Na Lagoa das Emas são 63 famílias que poderão usufruir do centro comunitário que está sendo construído e, neste momento de pandemia, todas receberão cestas básicas que estamos arrecadando em uma campanha emergencial", diz Sabrina Jimenez, aluna e voluntária.

Segundo Sabrina, os moradores oferecem uma riqueza histórica, mesmo com a dificuldade de acesso à educação. A única escola nas proximidades do povoado oferece ensino somente até o 5º ano.

"São pessoas de uma realidade muito simples, mas de uma riqueza histórica e cultural imensurável. A maior parte da comunidade vive da agricultura familiar, mas tem uma certa instabilidade de renda que se agrava, principalmente, nos meses de seca. Além disso, a dificuldade de acesso à educação é muito presente, a única escola da comunidade atuava somente até o 5° ano e está abandonada pela prefeitura local. Culturalmente, sua origem quilombola se mostra muito presente em um povo que cultiva suas tradições como a capoeira e danças típicas com muito orgulho. É uma comunidade muito receptiva, que nos acolhe todas as vezes com muito carinho e entusiasmo e que nos abriu os olhos para uma riqueza que vai além do material", declara.

O grupo auxilia comunidades quilombolas ao sul do Piauí (Foto: Divulgação)

O objetivo da iniciativa é colaborar com desenvolvimento socioeconômico e garantir a cultura local de forma conjunta com os habitantes, diz Laura Kotscho ao Portal AZ. O grupo de voluntários está sempre em contato com as comunidades para agir segundo as necessidades de todos. Na comunidade Lagoa das Emas um centro comunitário em processo de construção teve de ser interrompido devido à pandemia. "Em relação a comunidade do Zabelê nós ainda estamos em uma fase inicial de planejamento do projeto e do que será feito, e está avançando satisfatoriamente", relata Laura.

O Veredas, há dois anos, trabalha para preservar a cultura local com o engajamento das comunidades e tem mais planos para conquistar comunidades vizinhas. "Nos queremos ter a melhor contribuição possível nessas comunidades no que diz respeito as condições de vida dos moradores. Sempre tivemos em mente também outros objetivos, como a preservação da cultura local e o máximo engajamento das comunidades com os projetos propostos, possibilitando um desenvolvimento socioeconômico benéfico para todos os moradores. Acreditamos que o Projeto Veredas ainda tem muito o que contribuir na região, já que estamos ativos faz apenas 2 anos, e talvez até expandir nosso projeto para outras comunidades", acrescenta Rodrigo.

25 alunos são voluntários (Foto: Divulgação)

O Centro de Convivência na comunidade Lagoa das Emas contará com uma biblioteca, para ajudar as crianças e jovens a ter um ambiente de estudo e desenvolver o hábito da leitura, uma cozinha comunitária, depósitos para armazenar os itens usados nas danças tradicionais e os documentos da associação de moradores da comunidade.

"Ao elaborar o projeto de construção do centro de convivência na comunidade Lagoa das Emas tivemos o objetivo de atender as necessidades da comunidade, integrando os moradores no processo de planejamento, pois afinal, serão eles que cuidarão e utilizarão o centro. Além disso, visamos proporcionar às comunidades meios que possam contribuir para com o desenvolvimento socioeconômico da região", declara Rodrigo.

Como ajudar

De acordo com Sabrina, o projeto atua em duas instâncias. A arrecadação e a aplicação efetiva do dinheiro nas ações. "Os voluntários se juntam ao grupo todo ano, alunos mais novos que visitaram as comunidades da região da Serra da Capivara e se sentiram envolvidos e engajados com a nossa causa. Por enquanto, ainda não pensamos em expandir o nosso grupo para além disso, contamos com a ajuda de quem se solidariza pelo nosso trabalho através de outros meios. No nosso site (www.projetoveredas.org) é possível encontrar detalhadamente como doar: via depósito bancário, PicPay e, durante a pandemia, temos uma vaquinha acontecendo para que seja possível a compra de cestas básicas a serem entregues à Lagoa das Emas. Além disso, nos últimos três anos, promovemos aqui em São Paulo algumas palestras e, principalmente, três grandes eventos que carinhosamente nomeamos “PiauíFest” para a arrecadação de fundos. Se trata de um festival, com muita música ao vivo, comida e diversão. Esse ano, por conta da pandemia de COVID-19, eventos desse tipo não podem acontecer e, por isso, estamos promovendo um PiauíFest online. Dia 14/06 faremos uma live com diversos artistas no nosso Facebook (facebook.com/projetoveredaspiaui/) e no nosso canal do YouTube, com os mesmos objetivos que nos levaram a realizar as últimas 3 edições do PiauíFest: arrecadar fundos para manter o projeto, divulgar a região que, infelizmente, é pouco conhecida e divertir quem participa disso tudo com a gente", diz a estudante.

Os alunos contam com a ajuda de professores (Foto: Divulgação)

Projeto Veredas transforma vidas

Os voluntários revelam sentimento de transformação por participarem do projeto.

"Eu acho esta pergunta muito interessante, pois sinto que é uma troca mútua. Estas ações também vem transformando a minha vida e aprendo constantemente com tudo isso. Acredito que o projeto me ensinou e continua ensinando muito, pois aprendi na prática como trabalhar em equipe, conviver com ideias divergentes e os desafios que um projeto como este carrega. Para além disso, acredito que os vínculos formados com realidades diferentes das nossas, que de forma conjunta e colaborativa, traçam soluções sustentáveis para um desenvolvimento socioeconômico me fazem sentir mais parte do Brasil. Fico feliz em poder participar deste projeto que além de fazer a diferença na vida de várias pessoas, faz diferença na minha também", diz Laura Kotscho,  de 17 anos.

Para Sabrina Jimenez, de 16 anos, é um aprendizado constante.

"Não somente aprender dos desafios e das dificuldades de gerenciar um projeto com tamanha ambição como o nosso, mas também todo o aprendizado que adquirimos no contato com a comunidade. Estar constantemente em contato com uma realidade tão diferente e em alguns aspectos querer transformá-la e em outros querer preservá-la nos ensina muitas coisas, valores que não devem ser deixados de lado, dentre eles, principalmente a empatia", declara.

Rodrigo Pimentel, de 17 anos afirma que sentie epifania desde o primeiro momento de contato com o projeto. 

"Acho que desde o primeiro momento que estive nesse projeto o sentimento predominante foi de epifania. No início, me parecia um projeto que não conseguiria alcançar os resultados que hoje obtivemos, mas o sentimento perdurou por todo esse processo e, na realidade, tende somente a aumentar à medida que o Veredas expande e se torna mais capaz de colaborar com comunidades que carecem de oportunidades e investimentos. Ver as conquistas que alcançamos e as metas ambiciosas que traçamos para o futuro do projeto são motivos de felicidade e certa esperança", relata.

Sobre o Piauí Fest Live

O projeto Veredas faz há três anos um festival de música dos alunos. Esse evento é a principal fonte de renda da iniciativa. 

Esse ano, através das redes sociais, o festival vai reunir, no dia 14 de junho, diversos artistas, dentre esses Nando Reis e Gilberto Gil. 

Banner do evento (Foto: divulgação)
 

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